O ano que temos pela frente
15.02.2022

Créditos: Valentina Fraiz
Este que começou será um ano decisivo para o Brasil. Novos e velhos desafios se somam, tornando mais difícil a necessária renovação de esperanças para 2022. A persistência da pandemia ainda turva a luz no fim do túnel e amplia as incertezas sobre como será a vida pós-pandemia. No campo político, as eleições se aproximam, com alguma confiança sobre a sua realização, mas com seu desfecho bastante em aberto.
Para o Ibirapitanga, as transformações no contexto produziram um deslocamento dos seus dois focos de atuação – equidade racial e alimentação – para o centro do debate público, ao mesmo tempo em que aprofundaram os desafios em ambos os campos. Tanto em um como no outro, questões que poderiam ser consideradas superadas passaram a exigir novas afirmações contundentes. Para citar as mais evidentes, que o Brasil se vê diante do retorno da fome como problema estrutural e que há racismo no país – e que racismo reverso não existe. Um passo para frente e dois para trás.
Em 2022, o Ibirapitanga segue com seus compromissos de contribuir com a construção de sistemas alimentares justos, saudáveis e sustentáveis e de apoiar iniciativas de combate ao racismo. O trabalho relacionado a esses campos tem evidenciado a importância de pensar a interação e o cruzamento entre as questões alimentar e racial. Algumas dimensões são mais nítidas, como o impacto desigual do aumento da insegurança alimentar grave sobre a população negra, mas outras exigem uma reflexão mais aprofundada a partir dos princípios que devem orientar as transformações dos sistemas alimentares e dependem da construção de abordagens decoloniais sobre a nossa relação com os alimentos.
O trabalho do Instituto tem como estratégia central a contribuição para o fortalecimento de um ecossistema de organizações e movimentos. Mais do que construir intervenções pontuais, o Ibirapitanga busca fortalecer a capacidade das organizações em incidir e transformar a realidade na qual estão inseridas. Isso exige flexibilidade nos apoios e perspectiva de longo prazo. No entanto, cada uma das áreas apresenta desafios e contextos específicos em 2022.
O contexto eleitoral explicita a dimensão da desigualdade na representação política entre brancos e negros/indígenas. Ao mesmo tempo, traz uma oportunidade de organizar esforços por parte da sociedade no sentido de fortalecer candidaturas negras comprometidas com o combate ao racismo, buscando canalizar uma possível mobilização em torno do tema para ações concretas de redução de desigualdades.
Nestas eleições, o tema da fome deve mobilizar discursos e posicionamentos, valendo-se das experiências acumuladas de redução da insegurança alimentar de governos passados. Mas a disputa pelo futuro da alimentação deve considerar seus impactos sobre a saúde das pessoas e as mudanças climáticas. Neste sentido, a urgência do enfrentamento à fome não deve limitar a capacidade de construir sistemas alimentares saudáveis, justos e sustentáveis no futuro.
Esse é um ano, ainda, em que uma das mais importantes conquistas do movimento negro, traduzida na Lei de Cotas para o acesso à universidade, de 2012, passa por um processo de revisão e exige da sociedade um posicionamento em favor da continuidade de uma política que produziu inúmeros avanços, contribuindo para desarticular uma das principais faces do racismo estrutural.
O Ibirapitanga agradece a todas as pessoas e instituições que estiveram ao nosso lado e deseja força e coragem para o ano que começou.
Andre Degenszajn